Entre as aparições de Maria, existe uma que é pouco conhecida, mas que mereceu o reconhecimento das autoridades eclesiásticas e até hoje tem produzido ricos frutos de espiritualidade e santidade. Trata-se do caso de um judeu chamado Alphonse Charles Tobie Ratisbonne que, agraciado Por Nossa Senhora, se converteu ao Catolicismo e, com seu irmão Teodoro (também judeu convertido e feito sacerdote) é fundador da Congregação dos Padres de Nossa Senhora de Sion (a Congregação das Irmãs de Sion já fora fundada pelo Padre Teodoro).
Eis, em poucas páginas, a história dessa conversão descrita, em parte, pelo próprio Afonso Ratisbonne.
Os Antecedentes
Alphonse Charles Tobie Ratisbonne nasceu a 1º de maio de 1814 em Estrasburgo (França) como o penúltimo filho de numerosa família judaica. Com a idade de quatro anos, perdeu a mãe, e tornou-se o menino-rei, cercado de carinho por todos, distinguindo-se pela espontaneidade e a vivacidade de seus gestos. A família gozava de boa situação financeira, que lhe proporcionava educação esmerada, mas pouco religiosa; o judaísmo da família se reduzia a certa filantropia e generosidade para com os mais carentes.
Aos dezesseis anos, perdeu seu pai e se tornou senhor do patrimônio. Seu tio Luís, muito rico e sem filhos, o escolheu para suceder-lhe um dia à frente de seu Banco. Só fazia uma censura a Afonso, devida às suas frequentes viagens a Paris. Afonso mesmo reconheceu-o mais tarde:
“Ele tinha razão; eu só amava os prazeres; os negócios me impacientavam; o ar dos escritórios me sufocava; eu pensava que estamos no mundo para gozar…Não sonhava senão com festas e distrações e a elas me entregava com paixão” (Carta de Afonso Ratisbonne ao Sr. Dufriche-Degenettes, 12/4/1842).
Em 1841 tornou-se noivo de sua sobrinha Flora Ratisbonne, judia de fé convicta. Não podendo casar-se de imediato,dada a pouca idade da noiva, Afonso resolveu empreender uma viagem a Nápoles e à ilha de Malta, onde passaria o inverno de 1841-1842. Por engano providencial, em vez de se dirigir à Agência de Viagens correspondente, foi procurar o escritório de viagens para Roma. A esta cidade chegou aos 6 de janeiro de 1842.
Havia algum tempo, uma lenta evolução se realizava em Afonso. A incredulidade ia cedendo a uma vaga crença em Deus, suscitada, em grande parte, pelo convívio com a noiva. Diz ele: “A presença de minha noiva despertava em mim não sei que sentimento de dignidade humana; eu começava a crer na imortalidade da alma e, mais do que isso, comecei instintivamente a rezar. A lembrança de minha noiva elevava o meu coração para um Deus que eu não conhecia, que nunca tinha amado nem invocado”
Eis ainda como Afonso mesmo descreveu seu estado de alma na época de sua conversão: Vivi até a idade de 14 a 15 anos na religião hebraica, que me tinha sido ensinada, e, a partir desta data até os 23 anos aproximadamente, vivi sem religião alguma e mesmo sem crer em Deus e a trabalhar pela moralização da juventude israelita, tendo inscrito meu nome numa sociedade constituída para este fim. Há um ano, celebrei meu noivado com uma jovem israelita chamada Flore Ratisbonne, minha sobrinha, e, como se tratasse de uma pessoa irrepreensível, senti-me inclinado mais fortemente para a religião judaica, que ela professava. Entretanto as cerimônias da sinagoga não produziam em mim nenhuma impressão e, pelo contrário, me aborreciam. Eu sentia, cada vez mais, uma aversão real contra o Cristianismo, que considerava como idolatria, e esses sentimentos aumentaram durante minha permanência em Nápoles”.
A permanência de Afonso em Roma excitou nele um preconceito contra o Cristianismo, preconceito que já despontara aos treze anos de idade, quando Afonso descobriu que seu irmão Teodoro recebera o Batismo e se preparava para a ordenação sacerdotal.
Passamos agora a palavra ao próprio Afonso Ratisbonne; valer-nos-emos dos depoimentos que ele prestou por ocasião do inquérito instituído pelas autoridades religiosas de Roma no intuito de averiguar as circunstâncias e a autenticidade da alegada aparição da Virgem SS.
A Conversão sob o Sinal da Virgem SS.
Em Roma, janeiro de 1842, Afonso foi visitar um amigo Católico, o Barão Teodoro de Bussierre:
“Falamos do meu irmão padre, de quem eu me queixei amargamente por ele ter batizado meu sobrinho que estava à morte. Conversamos sobre religião e eu manifestei minha oposição às conversões, declarando que não aprovava o abandono da religião onde Deus nos tinha feito nascer e que, aliás, todas as religiões são boas. Comuniquei-lhe o efeito que me tinha causado o gueto e a opressão contra meus correligionários judeus, assim como a aversão pelas superstições católicas, como eu as chamava.”
“Pois bem, respondeu o Senhorde Bussierr, como você é um espírito forte, não recusará usar uma medalha que eu vou-lhe dar. Eu vou usa-la, respondi, por pura complacência, a fim de provar que os judeus não são tão obstinados quanto se diz. As crianças começaram a procurar um cordão para colocar a medalha em meu pescoço e eu disse brincando: Com isso, já sou Católico!…”
“Como você é sincero, replicou o barão de Bussierre, vou pedir-lhe outro favor: recitar uma curta oração a Nossa Senhora, composta por São Bernardo, que começa com essas palavras: Lembrai-vos. Consenti como se fosse uma brincadeira que forneceria matéria para o meu diário de viagem. Como o Senhor de Bussierre dissesse que não possuía senão um exemplar da oração, respondi-lhe que lhe daria uma cópia feita por mim e guardaria a sua?.
“Ele não quis acreditar; eu prometi e guardei a oração como prova da superstição católica. Quando cheguei ao hotel, copiei-a com efeito, e nada encontrei nela de extraordinário. Mas tornei a relê-la muitas vezes, de modo que, sem querer, a decorei.
Ela me voltava sempre à memória e eu não podia deixar de repeti-la interiormente, sem experimentar contudo uma emoção religiosa”.
Eis agora o momento importante: Aos 20/01/1842 Afonso foi convidado para dar um passeio em Roma na companhia de Teodoro de Bussierre. Este, porém, lhe pediu autorização para parar brevemente na Igreja de Santo André delle Fratte, onde Teodoro tinha que se avistar com um dos padres da paróquia.
“Eu lhe respondi que fizesse o necessário, porque eu o esperaria.Ao andar pela Igreja, eu me senti subitamente agitado e como que cercado de um véu. A Igreja se tornou obscura, exceto uma capela luminosa; eu vi de pé, sobre o altar, viva, grande, majestosa, cheia de beleza e misericordiosa, a Santíssima Virgem Maria, como está representada na medalha milagrosa da Imaculada Conceição”.
A esta visão, caí de joelho, no lugar em que me encontrava, tentei várias vezes levantar os olhos para a Santíssima Virgem, mas seu fulgor e o respeito me fizeram abaixá-los, sem me impedir, entretanto, de sentir a evidência da aparição. Fixei os olhos sobre suas mãos e nelas percebi a expressão do perdão e da misericórdia. Em presença da Santíssima Virgem, embora Ela não me tenha dito uma única palavra, compreendi o horror do estado em que me encontrava, a deformidade do pecado, a beleza da religião Católica; numa palavra, compreendi tudo.
Quando o Senhor de Bussierre voltou, encontrou-me de joelhos, a cabeça apoiada na balaustrada da capela, onde tinha aparecido a Santíssima Virgem, banhado em lágrimas. Eu não pude entender como, tendo caído do outro lado da nave, eu me encontrava perto da balaustrada. Acrescentarei que minhas lágrimas eram acompanhadas de um sentimento de gratidão para com a Santíssima Virgem Maria e de compaixão para com a minha família mergulhada nas trevas do judaísmo. O Senhor Teodoro de Bussierre me levantou quase, de tal modo eu estava prostrado; eu lhe disse então chorando e fazendo alusão ao falecido Senhor de La Ferronays; Oh! Como este senhor rezou por mim! O barão de Bussierre me interrogou diversas vezes, mas eu estava comovido e abatido demais para poder responder. Quando, sustentando-me com os braços, ele me conduziu para fora da igreja e me ajudou a subir no carro, perguntou-me para onde eu desejava ir: Leve-me para onde quiser, respondi; depois do que eu vi, obedeço. Mas que foi que você viu? Perguntou-me. Eu não posso dizer; leve-me a um confessor e eu o direi de joelhos, se ele permitir.
Levou-me ao Gesù, onde contei o acontecimento ao P. de Villefort, jesuíta, em presença do barão Teodoro de Bussierre. Em seguida, vimos dois outros Padres jesuítas: o Superior Geral e o Padre Rozaven…
Depois da aparição, fui instruído concisamente sobre o batismo e a religião pelo Reverendo Padre de Villefort, da Companhia de Jesus. Além disso, li um pequeno catecismo e fiz um retiro de oito dias na casa abençoada de Gesù. Quanto à Sagrada Eucaristia, tive um vivo sentimento (mas não uma visão) da presença real de Jesus Cristo; e, quando a recebi, precisei ser ajudado para conseguir voltar do altar até o meu lugar.
Passaram-se onze dias, do dia 20 ao dia 31 de janeiro, quando recebi o batismo das mãos do Eminentíssimo Cardeal Vigário, na Igreja do Gesù.
O Inquérito e seu Resultado
Aos 11 de fevereiro, o Vicariato de Roma abriu um inquérito sobre os acontecimentos.Até o dia 12 de abril de 1842 foram ouvidas nove testemunhas, que depuseram com unanimidade em favor da saúde física e mental de Afonso Ratisbonne e da sinceridade de sua conversão instantânea. Aos 3 de junho de 1842 foi publicado o Decreto que reconhece a autenticidade desse ?admirável acontecimento?; o texto alude, por duas vezes, à intercessão da Virgem Maria e não à sua aparição, o que não significa que a negue ou conteste, mas sim, que vai de maneira realista e direta ao cerne do que ocorreu no dia 20/01/1842. Enfatizando a ?unanimidade maravilhosa? dos depoimentos, afirma ?que nada tem mais a desejar para reconhecer aqui a marca de um verdadeiro milagre?. E conclui: O Eminentíssimo Cardeal Vigário da Cidade de Roma disse, pronunciou e definitivamente declarou que dá testemunho pleno da verdadeiro e insigne milagre operado por Deus infinitamente bom e onipotente, mediante a intercessão da Bem-aventurada Virgem Maria, na conversão instantânea e perfeita, de Afonso Ratisbone, do judaísmo ao Catolicismo…Convém relevar e publicar as obras de Deus (Tb 12,7).
(do site)
Deixe uma resposta
Você precisa fazer o login para publicar um comentário.