Aristides de Atenas (+ 130) ao imperador Adriano:
“Os cristãos ó rei, vagando e buscando, acharam a verdade conforme pudemos achar em seus livros, estão mais próximos que os outros povos da verdade e do conhecimento certo, pois creem no Deus criador do céu e da terra, naquele em quem tudo é e de quem tudo procede, que não tem outro Deus por companheiro e do qual eles mesmos receberam os preceitos que guardam no coração, com a esperança e expectativa do século futuro.
Por isso, não cometem adultério, não praticam a fornicação, não levantam falso testemunho, não recusam devolver um depósito, não se apropriam do que não lhes pertence.
Honram pai e mãe, fazem bem ao próximo e, quando em juízo, julgam com equidade.
Não adoram os ídolos – semelhantes aos homens. O que não desejam lhes façam os outros não o fazem também; não comem alimentos de sacrifícios idolátricos, pois são puros.
Exortam os que os afligem, a fim de fazê-los amigos.
Suas mulheres, ó rei, são puras como virgens, suas filhas são modestas.
Seus homens se abstém de toda união ilegítima e da impureza, esperando a retribuição que terão no outro mundo.
Aos escravos e escravas, bem como a seus filhos – se os têm – persuadem a tornar-se cristãos, em razão do amor que lhes dedicam, e quando se tornam, chamam-nos indistintamente irmãos.
Não adoram a deuses estranhos e vivem com humildade e mansidão, sem qualquer mentira entre eles.
Amam-se uns aos outros, não desprezam as viúvas. Protegem o órfão dos que os tratam com violência. Possuindo bens, dão sem inveja aos que nada possuem.
Avistando o forasteiro, introduzem-no na própria casa e se alegram por ele, como se fora verdadeiro irmão: pois se dão o apelativo de irmãos, não segundo o corpo, mas segundo o espírito e em Deus.
Se algum pobre passa deste mundo, alguém sabendo, encarrega-se – na medida de suas forças – de dar-lhe sepultura.
Se conhecem um encarcerado ou oprimido por causa do nome do seu Cristo, ficam solícitos a seu respeito e se possível libertam-no.
Quando um pobre ou necessitado surge entre eles e não possuem abundância de recursos para ajudá-lo, jejuam dois ou três dias para obter o necessário para o seu sustento.
Guardam com diligência os preceitos do seu Cristo, vivem reta e modestamente – conforme lhes ordenou o Senhor Deus.
Todas as manhãs e horas louvam e glorificam a Deus pelos benefícios recebidos, dando graças por seu alimento e bebida.
Mesmo se acontece que um justo – entre eles – passa deste mundo, alegram-se e dão graças a Deus, ao acompanharem o cadáver, como se emigrasse de um lugar para outro.
E assim como quando nasce um filho louvam a Deus, também se ele morre na infância glorificam a Deus, por quem atravessou o mundo sem pecados.
Mas vendo alguém morrer na malícia e nos pecados, choram amargamente e gemem por ele, supondo´o ir ao castigo. Tal é, ó rei, a constituição da lei dos cristãos e tal a sua conduta”. (Apologia).
Da Carta a Diogneto:
Esta Carta é um dos mais antigos documentos que conta a vida dos primeiros cristãos; é de um autor desconhecido, que escreveu a Diogneto; é do século II.
Em seguida, temos um trecho da Carta:
“Dai a cada um o que lhe é devido: o imposto a quem é devido; a taxa a quem é devida; a reverência a quem é devida; a honra a quem é devida [Rom 13,7].
Os cristãos residem em sua própria pátria, mas como residentes estrangeiros.
Cumprem todos os seus deveres de cidadãos e suportam todas as suas obrigações, mas de tudo desprendidos, como estrangeiros…
Obedecem as leis estabelecidas, e sua maneira de viver vai muito além das leis…
Tão nobre é o posto que lhes foi por Deus outorgado, que não lhes é permitido desertar” (5,5; 5,10;6,10).
Os cristãos não diferem dos demais homens pela terra, pela língua, ou pelos costumes.
Não habitam cidades próprias, não se distinguem por idiomas estranhos, não levam vida extraordinária.
Além disso, sua doutrina não encontraram em pensamento ou cogitação de homens desorientados.
Também não patrocinam, como fazem alguns, dogmas humanos…
Qualquer terra estranha é pátria para eles; qualquer pátria, terra estranha.
Tem a mesa em comum, não o leito.
Vivendo na carne, não vivem segundo a carne.
Na terra vivem, participando da cidadania do céu.
Obedecem às leis, mas as ultrapassam em sua vida.
Amam a todos, sendo por todos perseguidos (…).
E quando entregues à morte, recebem a vida.
Na pobreza, enriquecem a muitos; desprovido de tudo, sobram-lhes os bens.
São desprezados, mas no meio das desonras, sentem-se glorificados.
Difamados, mas justo; ultrajados, mas benditos, injuriados prestam honra.
Fazendo o bem são punidos como malfeitores; castigados, rejubilam-se como revificados.
Os judeus hostilizam-nos como alienígenas; os gregos os perseguem, mas nenhum de seus inimigos pode dizer a causa de seu ódio.
Para resumir, numa palavra, o que é a alma no corpo, são os cristãos no mundo: como por todos os membros do corpo está difundida a alma, assim os cristãos, por todas as cidades do universo (…)”.
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